COMO FAÇO PARA SER UM MONGE BUDISTA?

A todos, Namaste!

Muita gente quer, ou pelo menos PENSA que quer, seguir a vida monástica, tornando-se monge ou monja buddhista… Antes de largar pai e mãe, família, apartamento, universidade e emprego para embarcar numa canoa furada, é bom pensar em uma série de fatores!
Tornar-se um monge não é coisa de filme de Kung-Fu nem de documentário sobre o Tibet. É uma decisão sobre a vida REAL, uma decisão pessoal extremamente séria! Considere que vivemos todos numa sociedade cada vez mais globalizada, vorazmente competitiva onde achar um lugar no mercado de trabalho é cada vez mais difícil. Pior ainda é sair desse mercado e depois de passar anos ausente, tentar retornar a ele! Passar alguns anos sem trabalhar e retornar ao Brasil “com uma mão na frente e outra atrás” é algo sério e bastante arriscado.
Um treinamento monástico, não importa que tipo de Tradição Buddhista o postulante escoha, é rígido, disciplinado, exigente e, acima de tudo CARO! É bom que fique claro que, para se tornar monge, o candidato deve ter dinheiro suficiente para uma viagem à Ásia, onde terá que se manter financeiramente, com despesas a cada três meses (ou menos!) para ir de trem ou avião a outro país a fim de renovar seu visto de permanência, isto, considerando que o país para o qual seja enviado tenha relações diplomáticas com o Brasil e o aceite como morador temporário… Todas as despesas, incluindo com eventuais emergências, correm unicamente por conta do postulante a monge e a maioria dos mosteiros não demonstra o menor interesse por esses problemas pessoais.
Realisticamente falando, o lado financeiro é um ponto muito importante a ser considerado. Tanto ou mais que a questão da VOCAÇÃO para a vida monástica. Se alguém pensa que, ao se tornar monge, nunca mais vai se preocupar com problemas financeiros, este alguém está muito enganado.
Uma grande dificuldade no Brasil (e em outros países ocidentais) é a falta de mosteiros e monges onde e por quem um(a) candidato(a) possa receber o treinamento. Isto torna necessário que a pessoa interessada seja enviada para a Ásia. Na verdade, mesmo que houvesse no Brasil algum lugar e monges/monjas aptos a treinar noviços e noviças, eu considero fundamental uma vivência de alguns anos na Ásia para um processo de imersão na realidade asiática como fortalecimento da vida monástica.
A situação é, COM CERTEZA, muito mais difícil para o caso de mulheres que querem ser monjas. O machismo das sociedades asiáticas é marcante e muito forte. Há um grande preconceito, dentro dos próprios mosteiros e tudo torna a vida de uma monja ainda mais difícil que a dos monges.
Uma vez alertado para essas dificuldades iniciais, o candidato que queira ser monge ou monja budista deve estar ciente de que existem várias Tradições ou Escolas de Budismo e, embora todas venham da mesma raíz dos Ensinamentos do Buddha, têm diferenças culturais tão diversificadas quanto o Catolicismo e o Candomblé, por exemplo! Assim sendo, considero muito interessante que a pessoa interessada em ser monge procure conhecer ao máximo cada Tradição – lendo, estudando, pesquisando e, principalmente, visitando grupos e templos budistas para saber se realmente se identifica ou não com o modo de vida monástica de cada Tradição, antes de mergulhar numa empreitada, do outro lado do mundo e, em pouco tempo se decepcionar, frustrar e acabar culpando o Budismo como um todo, por causa de uma experiência fracassada.
Uma vez feita a opção, o candidato ou candidata à vida monástica deve procurar o grupo ou templo da Tradição na qual quer se ordenar e procurar saber se eles dão esse tipo de orientação. Aqui também é preciso esclarecer que a GRANDE MAIORIA dos grupos de estudo de Budismo é formada e dirigida por leigos que não são capazes de dar orientação alguma sobre ordenação monástica, já que seus monges orientadores nem vivem no Brasil e só aparecem por aqui raramente. Poucos são os templos budistas e, menos ainda os que têm condições de orientar interessados em ser monges ou monjas.
Consideremos, então, que o(a) candidato(a) à vida monástica tenha dinheiro suficiente para se manter na Ásia, possa pagar a passagem e tenha encontrado um mosteiro onde iniciar o treinamento. É bom que saiba que o treinamento não será em Inglês e, para falar a verdade, o conhecimento desse idioma vai ajudar muito pouco ou NADA na maior parte dos países asiáticos (com raras exceções, como a Índia, Sri Lanka, Malásia e o Nepal). Em países como Taiwan, Tailândia, Camboja e China é raríssimo encontrar alguém que consiga entender alguma palavra em inglês. Portanto, antes de pensar em estudar Escrituras Budistas, é importantíssimo ter conhecimento do idioma falado no templo – tailandês, tibetano, chinês ou qualquer outro, dependendo da Tradição escolhida. Isto é algo a ser pensado antes de deixar o Brasil. Pode ser uma boa idéia ter pelo menos uma noção básica do idioma a ser usado, com o uso da internet (auto-didata) ou, melhor ainda, com aulas particulares com um professor nativo.
Com tudo pronto para o embarque, a pessoa que quer ser monge ou monja budista não deve pensar que em poucos meses estará de volta ao Brasil usando o manto monástico! O processo normal deve incluir alguns meses (variando de uma Tradição para outra) na condição de postulante; a pessoa fica no templo, geralmente vestindo apenas roupas brancas ou um uniforme… Faz serviços de faxina, trabalha na cozinha, estuda o idioma, participa de rituais e vai tentando se adaptar à rotina da vida no templo… É o período de passar por dificuldades iniciais que darão à pessoa a certeza (ou não!) de que serve para a vida monástica. Espere passar PELO MENOS, seis meses nessa situação – recebendo ordens, trabalhando muito, fazendo todo tipo de serviço em troca de um lugar para dormir e comida, apenas!
Sempre dependendo de cada Tradição, o período seguinte é a ordenação inicial, como noviço ou noviça. A pessoa que quer ser monge ou monja terá que se preparar, decorar recitações e fazer ensaios para a Cerimônia de Ordenação Inicial. Ficará aos cuidados de um(a) PRECEPTOR(A), a quem deverá obedecer e passar a maior parte do tempo juntos. Noviços e noviças trabalham muito, são testados constantemente, levam broncas e aprendem a ouvir em silêncio, sem xingar nem revidar. Dependendo da Tradição Cultural, PODE HAVER (vejam bem: PODE HAVER, não obrigatoriamente!!) castigos físicos, como ficar ajoelhado no pátio, puxões no nariz ou até uma bofetada…
Os horários dos templos são bastante rígidos, com a hora de acordar em torno das 04:30 da madrugada, tarefas e aulas o dia todo, nada de TV ou confortos! Muitos templos não têm água quente e os dormitórios coletivos são desconfortáveis… Tenha sempre em mente que um templo budista não é um Spa nem hotel cinco estrelas e a vida monástica é REAL, não é como nos filmes e novelas.
Após um período longo (dois anos ou mais) na condição de noviço ou noviça , o Preceptor decidirá quando a pessoa que quer ser monge budista está em condições de receber a Ordenação Superior. Daí, novos preparativos serão feitos para a cerimônia e, somente então a pessoa se tornará monge ou monja budista.

O correto é que, mesmo após se tornar monge ou monja, a pessoa continue servindo e convivendo com o Preceptor e, só após 5 anos de convivência, finalmente, possa seguir sozinho, tomando suas próprias decisões.
Esta matéria não tem a pretensão de ser um “manual de como ser monge budista”, mas apenas visa orientar possíveis candidatos, com base em minha própria experiência, dificuldades e frustrações.
Quem quiser maiores informações, orientação e até mesmo um treinamento inicial, fique à vontade para estabelecer contato comigo e ajudarei no que estiver ao meu alcance!
Boa sorte em sua busca! Fiquem todos em Paz e protegidos!

सुनन्थो भिक्षु
Rev. SUNANTHÔ BHIKSHÚ