MEDITAÇÃO BUDDHISTA
Por Bhantê Sunanthô Bhikshú
editar não é uma exclusividade do Buddhismo. Na verdade, o Buddha só meditou porque as várias técnicas de Meditação já faziam parte de sua cultura, através do Hinduísmo, onde os praticantes já meditavam há milhares de anos, como parte da Tradição de um dos povos mais antigos do Mundo.
No Buddhismo, há, basicamente, três principais tipos de Meditação: Vipáshyana (ou Vipássana, em Páli), Meditação Andando e Meditação Ánápánássati, que é a que veremos neste estudo. “Ánápáná” significa “entrada e saída de ar” e “satí” significa “atenção plena, foco, concentração”, portanto, o nome deste tipo de Meditação, literalmente quer dizer “concentração na entrada e saída do ar” ou, em outras palavras: foco no fenômeno da respiração.
Embora muitas pessoas enfatizem a técnica de Vipáshyana, foi usando Ánápánássati que Siddharth Gáutam, naquele anoitecer solitário, debaixo da figueira indiana, se sentou e, depois de passar a noite toda meditando, quando o dia estava clareando, atingiu a Iluminação, o Estado Mental de Nirváña, tornando-se O Buddha. Portanto, não há como menosprezar essa técnica, nem como duvidar de sua eficácia.
O modo como vou ensinar aqui é o tradicional, explicado por todos os grandes mestres de Meditação, porém, por experiência própria, algo parecia não funcionar para mim desse jeito que me foi ensinado. Por alguma razão eu não conseguia sentir o fenômeno da respiração nem na ponta do nariz, nem no subir e descer da barriga, muito menos no lábio superior! Eu sempre me perguntava o que havia de errado comigo e, por vezes, cheguei a desistir de meditar, me considerando um caso perdido!
Foi então que surgiu a explicação do Venerável Ajahn Brahmavamsô, o famoso “Ajahn Brahm”, de quem tive a sorte de me tornar amigo. A explicação dele para a Meditação, realmente mudou minha vida, já que ele ensina os praticantes a NÃO seguirem o método tradicional e, em vez disso, observarem a presença do ar, entrando e saindo, dentro do corpo como inteiro, sem se prender a nenhum ponto específico (nem nariz, nem lábio, nem barriga). Quando passei a seguir essa orientação, minhas meditações se tornaram um sucesso e eu, que já havia perdido a esperança de meditar bem, ganhei novo ânimo.
De qualquer forma, como eu disse, ensinarei aqui o método tradicional, porém os que, assim como eu, não se sentirem à vontade com ele, já sabem que há a alternativa acima e não precisam desanimar, muito menos desistir da prática. Então, sem mais delongas, vamos ao método!
Ánápánássati é o primeiro tipo de Meditação exposta pelo Buddha no Mahá Satipatthána Sutra, o Grande Ensinamento sobre os Fundamentos da Atenção Plena. O Buddha enfatizou bastante esta Meditação, por ser a porta de entrada para o Estado Mental do Nirváña e porque, segundo a Tradição, foi o método adotado por todos os buddhas do passado, como a base principal para atingir a Buddheidade. Quando o Bhagaván (o Buddha) se sentou debaixo da Árvore Bodhi e resolveu só se levantar quando atingisse a Iluminação, com esta técnica atingiu os Quatro Estágios Meditativos (chamados de JHÁNA), tomou conhecimento de todas as suas vidas anteriores, desvendou a natureza do Samsára (o mundo de renascimentos no qual somos todos prisioneiros), experimentou sucessivos conhecimentos introspectivos e, quando o dia estava raiando, os 100.000 Universos tremeram e ele alcançou a Iluminação, livrando-se de todos os últimos obstáculos mentais que ainda o impediam de se tornar O Buddha, um ser em cuja mente está contida toda a Sabedoria do Universo, sem qualquer resquício de dúvida ou erro.
É por ter percorrido todo esse Caminho e nos ter deixado o trajeto como herança, que devemos a Ele toda a gratidão e todo o respeito.
No texto original do Sutra, o Buddha começa a explicação do seguinte modo: “Aqui, Bhikshús (monges), um Bhikshú que tenha ido à floresta, ou ao pé de uma árvore ou a um lugar vazio, se senta de pernas cruzadas, mantendo a coluna ereta, fazendo surgir a Atenção Plena.” Tal explicação não se restringe aos monges e monjas, mas a qualquer um dos quatro tipos de pessoas mencionados nesse Ensinamento: Bhikshú (monge), Bhikshuní (monja), Upássaká (leigo seguidor do Buddhismo) ou Upássiká (leiga seguidora do Buddhismo), que queiram sinceramente praticar a Meditação. Portanto, devem procurar uma floresta, ou uma árvore num local tranqüilo e afastado ou uma moradia silenciosa. Então, deverá sentar-se com as pernas cruzadas, mantendo a coluna ereta, fixar a Atenção Plena na ponta do nariz, como lugar e objeto da Meditação.
Se fizer uma inalação prolongada, deverá observar este ato com Atenção Plena. Se fizer uma exalação prolongada, também a deverá observar com Atenção Plena. O mesmo deverá se passar para uma inalação curta e uma exalação curta – ambas deverão ser observadas com Atenção Plena. Disse o Bhagaván: “Inala experimentando o corpo em sua totalidade, exala experimentando o corpo em sua totalidade.”
Isto é, com Atenção Plena bem situada, vê o princípio, o meio e o final da inalação e da exalação. Conforme pratica a observação da inalação e exalação, usando da Atenção Plena, ambas as funções se acalmarão e tranqüilizarão.
O Bhagaván usou de um símile para ilustrar esse processo: Quando um carpinteiro e seu aprendiz trabalham a madeira na carpintaria, observam o trabalho com atenção. Ao fazerem um giro longo ou curto com o torno, sabem qual é o longo e qual é o curto. Da mesma maneira, se o praticante da Meditação inala profundamente, compreende como longa a inalação; se exala profundamente, também a compreende como longa; se a inalação for curta, ele tem consciência de que foi curta e se for uma inalação curta, ele a compreende como sendo curta. A mesma compreensão ele pratica para as exalações.
Ele exercita a Atenção Plena de tal forma, que vê o princípio, o meio e o final das funções de inalação e exalação. Compreende com Sabedoria a tranquilização dos dois aspectos: a inalação e a exalação.
Ao compreender desta forma as funções da inalação e exalação em si mesmo, ele também as compreende em outras pessoas. Também compreende as duas funções em si mesmo e nas outras pessoas em rápida alternação. Compreende também a causa do surgimento da inalação e o surgimento da exalação e a causa da cessação da inalação e da exalação, o momento exato do surgimento da inalação e da exalação.
Assim, o praticante se dá conta de que seu corpo, o qual está exercitando as duas funções, é somente um corpo, não é um ego ou um “Eu”. Esta Atenção Plena e Sabedoria são úteis para desenvolver uma melhor e mais profunda Sabedoria, tornando o praticante capaz de deixar de lado os conceitos errados sobre as coisas, em termos de “Eu” e “meu”. Então, chega à capacidade de viver com Sabedoria, respeito ao corpo e sem se apegar a nada do mundo, sem cobiça e sem distorção de pontos de vista. Vivendo sem apego, o praticante da Meditação percorre o Caminho até o Estado Mental do Nirváña, através da contemplação da natureza do corpo.
Esta é uma explicação com base na passagem do Mahá Satipatthána Sutra sobre Ánápánássati. Esta forma de Meditação pode ser explicada de DEZESSEIS formas diferentes em vários outros Sutras. Das dezesseis formas, quatro foram explicadas aqui, mas estas quatro são os fundamentos das dezesseis formas em que se pode praticar Ánápánássati.
PRELIMINARES DA PRÁTICA
Vamos então verificar quais as práticas preliminares deste tipo de Meditação. Primeiramente, o Bhagaván instruiu que devemos procurar um lugar isolado para praticar Ánápánássati. O Sutra diz que pode ser uma floresta, debaixo de uma árvore ou um lugar vazio. Lugar vazio pode ser uma cabana (KUTÍ, em Páli), como a que nós monges encontramos nos Templos de Floresta, mas, claro que na vida da cidade é quase impossível encontrar um lugar assim, portanto, podemos considerar como lugar vazio um Templo onde haja uma Sala de Meditação ou mesmo a casa da pessoa, desde que não haja outras pessoas nem barulho para perturbar a prática da Meditação.
No caso de um Templo ou Centro Buddhista, se todos permanecerem calados e com o único objetivo de meditar, pode-se considerar como “um lugar vazio”. O Bhagaván mencionou estes três tipos de local porque para praticar Ánápánássati, o silêncio é fundamental. O meditador praticante encontrará mais facilidade para desenvolver a concentração mental na respiração se estiver em total silêncio. No caso de não poder encontrar um local com silêncio absoluto, deve-se escolher um local tranqüilo no qual haja privacidade.
O Bhagaván explicou a Meditação sentada, mas, na verdade há quatro posturas que podem ser usadas na Meditação Ánápánássati: de pé, sentado, deitado ou caminhando. De todas, a postura mais adequada para a prática e a Meditação Sentada.
O ideal é sentar-se com as pernas cruzadas. Para os Bhikshús e homens leigos, o Buddha recomendou a postura de pernas cruzadas. Esta não é uma posição fácil para todos, mas pode ser dominada gradualmente. A posição de meia perna cruzada é recomendada para Bhikshunís e mulheres leigas. É a postura sentada, com uma perna dobrada. Melhor ainda seria se tanto homens quanto mulheres pudessem adotar a posição de “lótus completo”, com as solas de ambos os pés viradas para cima, com os pés colocados sobre as coxas. É uma postura muito difícil para a maioria das pessoas e seria preciso treinar desde criança para sentar com naturalidade como adulto. Na impossibilidade, basta sentar-se normalmente, com as pernas cruzadas.
Na prática de Ánápánássati, é fundamental sentar-se com o corpo direito. O torso deve manter-se ereto, porém nem muito relaxado nem contraído. Só pode-se cultivar corretamente esta Meditação se todos os ossos da coluna vertebral estiverem retos, alinhados. Portanto, esta orientação do Bhagaván de manter a coluna reta, deve ser bem compreendida e seguida corretamente.
As mãos devem ser postas sobre o colo, suavemente, as costas da mão direita sobre a palma da mão esquerda, os polegares se tocando suavemente. Os olhos podem estar tranquilamente fechados ou ligeiramente entreabertos, conforme for mais confortável para o praticante.
A cabeça deve estar direita, ligeiramente inclinada para frente, perpendicular ao umbigo. O fator seguinte é o local onde fixar a Atenção Plena. Para cultivar o Ánápánássati, deve-se estar claramente focado no local onde o ar entra e sai, tocando as fossas nasais. Isto se sentirá como um ponto debaixo das fossas nasais ou sobre o lábio superior, onde estiver presente o contato do ar ao entrar e sair das fossas nasais, sendo sentido com maior precisão. É nesse ponto que deve ser fixada a Atenção Plena, como um sentinela tomando conta de uma porta.
O Bhagaván explica a maneira de cultivar o Ánápánássati: Deve-se inalar atentamente, exalar atentamente. Desde que nascemos até o momento de nossa morte, a função de inalar e exalar continua, ininterruptamente, sem uma única pausa, mas não refletimos nem temos consciência disso. Nem sequer nos damos conta da presença da respiração. Se o fizermos, poderemos obter muito benefício, por meio da calma e da introspecção. Portanto, o Buddha nos aconselhou a estarmos sempre atentos à função da respiração.
O praticante da Meditação que observa conscientemente a respiração desta maneira, não deve NUNCA controlar sua respiração ou prende-la com esforço. Se fizer isso, vai se cansar e a concentração será afetada e interrompida. DEVE-SE RESPIRAR NATURALMENTE. A chave da Meditação bem sucedida é a Atenção Plena na respiração natural e no ponto onde se sente melhor a entrada e saída do ar, no fenômeno da inalação e exalação. É importante manter a concentração no ponto de contato do ar nas fossas nasais, mantendo a Atenção Plena na forma mais contínua e consistente possível.
OS OITO PASSOS
Para ajudar os praticantes a desenvolverem esta Meditação, os comentaristas e mestres de Meditação indicam oito passos progressivos na prática. Esses oitos passos, vou primeiramente mencionar e depois explicar como funcionam no processo meditativo real.
Seus nomes são:
CONTAGEM – GANANÁ
SEGUIMENTO – ANUBANDHANÁ
CONTATO – P´HUSSANÁ
FIXAÇÃO – THÁPANA
OBSERVAÇÃO – SALLAKKHANÁ
DISTANCIAMENTO – VIVATTANÁ
PURIFICAÇÃO – PARISSUDDHI
e
RETROSPECÇÃO – PATIPASSANÁ
Os oito passos cobrem o percurso completo do desenvolvimento do processo meditativo, até alcançar o Estado de Arahant – um Arahant é um ser que atinge em vida a Iluminação, alguém cuja mente já está no Estado Mental do Nirváña, já cultivada neste mundo.
1 – CONTAGEM (gananá)
A contagem é indicada para aquelas pessoas que nunca praticaram Ànápánássati. Não é um passo necessário para quem já pratica Meditação durante algum tempo. Mesmo assim, é bom tomar conhecimento da contagem e entender como funciona.
Quando um meditador se senta para praticar Ànápánássati, fixa a Atenção Plena na ponta do nariz e observa atentamente a inalação e exalação. Nota quando o ar entra e quando o ar sai, tocando a ponta do nariz ou o lábio superior. Neste momento, começa a contar os movimentos.
Há quatro métodos de contagem, o mais fácil deles eu explico assim: Na prmeira inalação e exalação, se conta “um – um”, na segunda se conta “dois – dois”, na terceira “três – três” e assim por diante até chegarmos ao “dez – dez”. Depois voltamos ao “um – um” e repetimos o processo até o “dez – dez”.
Esse processo de contagem não é Meditação, mas sim um método auxiliar essencial para quem começa a Meditação. Alguém que nunca meditou tem que usar algo que a ensine a natureza da mente e, sem usar a contagem, poderia pensar que está meditando enquanto a mente corre livremente, sem qualquer condicionamento. A contagem é um método fácil para controlar a mente divagante.
Se o praticante fixa bem a Atenção Plena na Meditação, pode manter corretamente a contagem. Se a mente voa em várias direções e ela perde a contagem, se confunde e, com isso, se dá conta de que a mente está divagando. Se a mente perde a contagem, o meditador deve começar novamente do princípio, mesmo que perca a contagem mil vezes.
Conforme a prática vai se desenvolvendo, pode acontecer da inalação e a exalação se tornarem mais freqüentes e não ser possível repetir o mesmo número muitas vezes. Então, o praticante tem que contar rapidamente “um”, “dois”, “três” etc. Quando conta desta maneira, pode compreender a diferença entre a inalação e a exalação prolongadas e a inalação e exalação breves.
2 – SEGUIMENTO (anubandhaná)
“Seguimento” significa seguir a respiração com a mente. Quanto a mente foi submetida pela contagem e está fixa na inalação e exalação, a contagem pode ser parada e substituída pelo seguimento mental do curso da respiração. Isto foi explicado pelo Bhagaván da seguinte maneira:
“Quando o meditador inala profundamente, compreende que está inalando profundamente; e quando está exalando profundamente, compreende que está exalando profundamente.”
Neste caso, a pessoa não força uma inalação ou exalação profundas, mas sim compreende a realidade do que está acontecendo naturalmente.
Neste trecho, o Buddha explica como o meditador treina a si próprio, pensando:
“Inalarei experimentando a totalidade do corpo e exalarei experimentando a totalidade do corpo.”
No caso, “totalidade do corpo” significa o ciclo completo do processo de inalação e exalação. O meditador deve fixar a Atenção Plena de tal modo que possa ver o princípio, meio e fim de cada ciclo da respiração. A esta prática se chama “experimentar a totalidade do corpo.”
O princípio, meio e fim da respiração devem ser entendidos corretamente. É errado considerar a ponta do nariz como o princípio da respiração, o peito como o meio e o umbigo como o final. Se alguém tentar rastrear a respiração desde o nariz através do peito, até a barriga, ou segui-la no trajeto de saída, desde a barriga, passando pelo peito, até chegar ao nariz, a concentração da pessoa será interrompida e a mente se tornará agitada. O princípio da inalação, quando corretamente entendido, é o início da inalação em si, o meio é a continuação do processo de inalação e o fim é quando ela se completa. Da mesma forma, acontece quanto à exalação em seu início, meio e finalização. Portanto, “Experimentar a totalidade do corpo” é estar alerta para o ciclo completo de cada inalação e exalação, mantendo a mente fixa no ponto em torno das fossas nasais, ou no lábio superior, onde se sinta a entrada e saída do ar com mais clareza.
Este trabalho de contemplação da respiração na área que circunda as fossas nasais, sem seguir a entrada e saída do corpo, é ilustrada pelo Bhagaván nos comentários com os exemplos do guardião da porta e do uso do serrote.
Assim como o guardião examina cada pessoa que entra e sai da cidade somente enquanto a pessoa passa pela porta, sem a seguir dentro ou fora da cidade, também o meditador deve estar atento a cada respiração somente enquanto o ar passa através das fossas nasais, sem seguir o ar no interior ou exterior do corpo.
Assim como um homem que está serrando um tronco, mantém sua atenção fixa no ponto onde os dentes do serrote cortam através da madeira, sem seguir os movimentos dos dentes até adiante e atrás, assim também o meditador deve observar a respiração como vai e vem em torno das fossas nasais, sem deixar que sua Atenção Plena se distraia com a passagem interior e exterior da respiração através do corpo.
Quando uma pessoa medita seriamente desta forma, vendo o processo por inteiro, um prazer suave toma conta de sua mente. E, já que a mente não mais divaga, todo o corpo se acalma, sentindo-se fresco e confortável.
3 – CONTATO (p´hússana) e 4 – FIXAÇÃO (thápana)
Estes dois aspectos da prática indicam o forte desenvolvimento de uma concentração mais forte. Quando se mantém a Atenção Plena na respiração, ela mesma se torna cada vez mais sutil e tranquila. Como resultado, o corpo se acalma e cessa a sensação de fadiga. A dor física e a dormência desaparecem e o corpo passa a sentir um conforto estimulante, como se tivesse sido tocado por uma brisa fresca e suave.
Nesse momento, devido à tranqüilidade da mente, a respiração se torna cada vez mais sutil, até que pareça que a pessoa parou de respirar. É uma sensação incrível, ter certeza de que ainda continua respirando, porém, sem sentir o fenômeno da respiração. Às vezes, essa sensação chega a durar dez minutos. Algumas pessoas se assustam com isso, pensando que pararam de respirar, mas não é verdade. A respiração continua, porém de forma muito delicada e sutil. Não importa o quanto ela se torne sutil, deve-se manter a Atenção Plena no contato (p´hússana) do ar com as fossas nasais, sem perder a noção dele. A mente se libera então dos Cinco Obstáculos – desejo sensual, repulsa, sonolência, agitação e dúvida. Como resultado, surge uma calma profunda e prazer.
Esta é a etapa em que surgem os “SINAIS”. O nome técnico deles, em Páli, é NIMÍTTA). São formações mentais que indicam a vitória da concentração sobre a divagação da mente. Primeiro vêm os sinais da aprendizagem (úggaha-nimítta), depois os sinais de contrapartida (patibhága-nimítta). Podem aparecer de diversas formas. Para alguns surgem em forma de luz, ou uma corrente de prata, como neblina ou uma roda. Para o Buddha, apareceram como uma luz brilhante, como o Sol do meio-dia.
O Nimítta do aprendizado é instável, se move de cá para lá, de cima para baixo. Mas o Nimítta que da contrapartida que aparece no ponto onde terminam as fossas nasais, é fixo, quieto, sem movimento. Nesse momento não há mais obstáculos, a mente está extremamente tranquila. Esta etapa foi explicada pelo Bhagaván quando Ele diz que a pessoa inala tranquilizando a atividade do corpo e exala tranquilizando a atividade do corpo.
O surgimento do Nimítta da contrapartida e a supressão dos Cinco Obstáculos marca o alcance do acesso à concentração (upatchára-samádhi). Posteriormente, à medida que se desenvolve a concentração, o meditador consegue a completa absorção (appaná-samádhi), começando com o primeiro Jhána. Com a prática do Ànápánássati, pode-se conseguir as Quatro Etapas, que são o primeiro, segundo, terceiro e quarto Jhánas. A estas etapas da concentração profunda, se chama de “fixação” (thápana).
5 – OBSERVAÇÃO (sallakkhana) e 8 – RECAPITULAÇÃO (patipassaná)
Uma pessoa que tenha alcançado um Jhána não deve parar por aí, mas sim continuar até desenvolver a Meditação da Introspecção – VIPÁSHYANA. Às etapas de introspecção se chama “observação” (sallakhana). Quando a introspecção consegue chegar ao máximo, o meditador alcança os caminhos supramundanos, começando com a etapa de entrada na correnteza que conduz ao Nirváña. Já que estes caminhos nos afastam das algemas que nos prendem ao ciclo de nascimento e morte (Samsára), eles são chamados de “distanciamento” (viváttana).
Os caminhos são seguidos por seus respectivos estados de fruição; a esta etapa, chamamos de “purificação” (parissúddhi) já que a pessoa consegue se limpar de todas as impurezas mentais.
Daí por diante, consegue-se chegar à etapa final, o conhecimento de recapitulação, chamado de “retrospecção” (patipassaná), já que a pessoa vê todo o caminho percorrido, seus progressos e sua totalidade. Esta é uma revisão breve das principais etapas ao longo do Caminho que conduz ao Estado Mental de Nirváña, baseado no método de Meditação Ànápánássati. Agora, vou explicar as Sete Etapas da Purificação.
AS SETE ETAPAS DA PURIFICAÇÃO
A pessoa que assumiu a prática começa por estabelecer-se num código de moral e ética adequado. Se for um leigo (Upássaká), deverá seguir os Cinco Preceitos de um Leigo Buddhista, ou os Dez Preceitos, normalmente indicados para noviços. Se for um Bhikshú, começa sua Meditação enquanto mantém seu código específico de moralidade. A observância deve ser ininterrupta da purificação da moralidade (Shíla-vissúdhi).
Depois, intensifica sua prática na Meditação e, como resultado, os obstáculos mentais são subjugados e a mente se fixa na concentração. Esta é a purificação da mente (tchitta-vissúdhi) – a mente que já tem seus obstáculos completamente superados – inclui tanto o acesso à concentração quanto os quatro Jhánas.
Quando o meditador está bem firme na concentração, o passo seguinte é voltar sua atenção para a meditação de introspecção (Vipáshyana). Para desenvolver a introspecção com base de Ànápánássati, o meditador deve primeiro considerar que este processo de inalar e exalar é unicamente forma, uma série de eventos físicos, corporais – não é um “eu” ou um ego. Os fatores mentais que contemplam a respiração são, em troca, só a mente, uma série de eventos mentais, desprovidos de qualquer ego ou individualidade. Esta discriminação de mente e matéria (náma e rúpa) é chamada a Purificação da Visão (ditthi-vissúdhi).
Quem chega a esta etapa, compreende o processo de inalação e exalação por meio das condições de surgimento e cessação dos fenômenos corporais e mentais contidos no processo da respiração. Esse conhecimento, que chega a extender-se a todos os fenômenos corporais e mentais em termos de seu surgimento dependente, se chama a compreensão das condições.
À medida que o entendimento amadurece, se eliminam todas as dúvidas criadas por ele em relação ao passado, futuro e presente, portanto, esta etapa é chamada de “Purificação Através da Transcendência das Dúvidas.”
Depois de ter entendido as relações causais da mente e da matéria, o meditador procede para a Meditação Vipáshyana e em seu momento, surge a Sabedoria “vendo o surgir e cessar de todas as coisas”. Quando o meditador inala e exala, vê os estados corporais e mentais surgindo e deixando de existir momento a momento. Quanto mais clara se torna essa Sabedoria, mais a mente se ilumina e surgem a felicidade e a tranqüilidade, juntas com a confiança em si mesmo, o esforço, a Atenção Plena, a Sabedoria e a equanimidade.
Quando aparecem esses fatores, o meditador reflete sobre eles, observando suas três características de impermanência, inquietação mental e ausência total de ego. À Sabedoria que distingue entre os resultados regozijantes da prática e a tarefa da contemplação sem apego, se chama de Purificação pelo Conhecimento e Visão do Verdadeiro e do Falso Caminhos”.
Sua mente, purificada assim, vê muito claramente o surgimento e cessação da mente e da matéria.
Logo vê, com cada inalação e exalação o rompimento de todos os fenômenos concomitantes mentais e corporais, os quais aparecem exatamente como a explosão de bolhas em uma panela de arroz fervendo ou como o rompimento de bolhas de ar num lago, quando chove. Esta Sabedoria que vê o rompimento constante de todos os fenômenos mentais e corporais é chamada de “Conhecimento da Dissolução”. Através desta Sabedoria, se adquire a habilidade de ver como todos os fatores da mente e do corpo em todas as partes do Universo surgem e desaparecem.
Logo surge no praticante a Sabedoria que vê todos esses fenômenos como um espetáculo efêmero. Vê que em nenhuma das esferas da existência, nem sequer nos planos das dimensões paralelas ao nosso Universo, há um prazer ou felicidade genuínos e compreende claramente o infortúnio e o perigo.
Então desenvolve uma repugnância por toda existência condicionada. Emerge no praticante um desejo urgente de liberar-se do mundo e um intenso desejo de liberação. Ao considerar os meios para liberar a si mesmo, surge no praticante um estado de Sabedoria que imediatamente capta a impermanência, a inquietação mental e a ausência de ego e conduz a níveis sutis e profundos de introspecção.
Assim, aparece no praticante a compreensão de que os agregados da mente e o corpo que aparecem em todos os sistemas do mundo estão constantemente sujeitos à inquietação mental e se dá conta de que o Estado Mental do Nirváña, que transcende o mundo, é enormemente pacífico e confortante. Quando compreende esta situação, sua mente alcança o conhecimento da equanimidade sobre as formações. Este é o clímax da meditação da introspecção, chamada de “Purificação pelo Conhecimento e Visão do Progresso”.
Conforme se torna imutável, aumenta a capacidade meditativa e quando suas faculdades estão totalmente maduras, entra o processo cognitivo do caminho de entrada na correnteza (sotápatti). Como caminho de entrada na correnteza, ele vislumbra o Estado Mental do Nirváña e compreende diretamente as Quatro Nobres Verdades (o Coração do Ensinamento do Buddha). O caminho é seguido por dois ou três momentos do frutoda entrada na correnteza, pelos quais o praticante desfruta dos frutos que conseguiu obter. Daí por diante, surge o conhecimento da recapitulação, por meio do qual ele reflete sobre seu progresso e o que conseguiu alcançar.
Se continuar na Meditação com séria aspiração, desenvolverá de um novo modo etapas do conhecimento de introspecção e percorrerá os três mais elevados caminhos e seus frutos: do que retorna a este mundo só mais uma vez (apenas mais um renascimento antes de se iluminar), do que não mais retorna e o do Arahant (apenas aguardando a morte física, para nunca mais renascer). Tais conquistas, junto com a entrada na correnteza, formam a sétima etapa da Purificação pelo Conhecimento e a Visão. Com cada uma destas conquistas, consegue perceber claramente as Quatro Nobres Verdades, que até então não estavam totalmente claras, ao longo da permanência no ciclo de renascimentos (Samsára). Como resultado, todas as impurezas contidas na mente são arrancadas e destruídas e a mente do praticante se torna pura e limpa. Então o praticante alcança o Estado Mental do Nirváña no qual ele está liberado de toda inquietação mental, sofrimento, nascimento, envelhecimento, morte, pesar, lamentação, dor, aflição e desespero.
CONCLUSÃO
Nascimentos como os nossos são raros no Samsára. Considere quantos bilhões e trilhões de seres de tantas espécies são mais numerosos que nós humanos neste planeta! Somente os insetos e peixes no oceano já seriam mais numerosos que nossa espécie. Portanto, por mais numerosos que pareçamos ser, é possível dizer que é uma grande benção ter nascido como Humano.
Temos ainda a sorte de, na forma humana, podermos ouvir a mensagem do Buddha, de desfrutar da companhia de bons amigos, de ter a oportunidade de ouvir o Dharma.
Com tantas bênçãos e oportunidades, se permitirmos que nossas aspirações amadureçam, podemos alcançar ainda nesta vida o Estado Mental do Nirváña, através da entrada gradual na correnteza que conduz à Iluminação, a correnteza de quem retorna apenas uma vez a este mundo, de quem não retorna mais e do estado de Arahant.
Portanto, é importante desenvolver regularmente a Meditação Ánápánássati, depois de receber as instruções de como praticar corretamente este método, deve-se purificar a própria vida, seguindo os Preceitos de Moralidade estabelecidos pelo Buddha, seguindo o Caminho da Jóia Tríplice (Buddha, o Ensinamento e a orientação da Comunidade Monástica)
É importante reservar um tempo e local específicos, a cada dia, para a prática da Meditação, não desperdiçando o renascimento humano, esta grande oportunidade de alcançarmos o Nirváña!
Bhantê Sunanthô Bhikshú